As vezes tenho a necessidade
de olhar para o nada, para ver se reconheço o Nada... o Nada na sua mais plena
ausência, na sua completa falta de existência.
Ainda não aprendi a entender a
falta de algo, não aprendi a me encontrar na completa ausência... talvez seja
essa a explicação de ter passado tantas noites em claro! A possibilidade de
encontrar o grande Nada, que é o sono, me amedronta de tal forma, que decidi, na inconsciência de mim mesma não
dormir!
Outro dia me peguei pensando
em controlar meus sonhos, mas ai, eis a grande questão da minha existência: não
entender nem tentar controlar.
Minha vida é o grande
mistério, é o mito, é o inesperado, o incalculável, o infinito das estrelas em
suas infinitas galáxias. Desfazer-me de tudo isso seria como a morte... esta
sou eu, a Sr.ª A. A mulher das questões, que não encontra um sentido, apesar de
as vezes achar que havia encontrado.
No emaranhado das duvidas, dos
receios correntes, das interrogações, eu me nego e tão logo me nadifico, torno
o Nada o grande ser que habita dentro da casca de Sr.ª A. Este ser necessita,
pois, que permaneça na imensa plenitude do que se faz Nada. O Nada... o vazio,
o obscuro, serei eternamente ser, indo.... grande questão!
A hora de viver é tão infernalmente inexpressiva que é o nada. Aquilo que eu chamava de ""nada" era no entanto tão colocado a mim que me era... eu? e portanto se tornava invisível, e tornava-se o nada. As porta como sempre continuavam a se abrir."
Clarice Lispector - A Paixão segundo G.H.