quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Sr.ª A.


As vezes tenho a necessidade de olhar para o nada, para ver se reconheço o Nada... o Nada na sua mais plena ausência, na sua completa falta de existência.
Ainda não aprendi a entender a falta de algo, não aprendi a me encontrar na completa ausência... talvez seja essa a explicação de ter passado tantas noites em claro! A possibilidade de encontrar o grande Nada, que é o sono, me amedronta de tal forma, que  decidi, na inconsciência de mim mesma não dormir!
Outro dia me peguei pensando em controlar meus sonhos, mas ai, eis a grande questão da minha existência: não entender nem tentar controlar.
Minha vida é o grande mistério, é o mito, é o inesperado, o incalculável, o infinito das estrelas em suas infinitas galáxias. Desfazer-me de tudo isso seria como a morte... esta sou eu, a Sr.ª A. A mulher das questões, que não encontra um sentido, apesar de as vezes achar que havia encontrado.
No emaranhado das duvidas, dos receios correntes, das interrogações, eu me nego e tão logo me nadifico, torno o Nada o grande ser que habita dentro da casca de Sr.ª A. Este ser necessita, pois, que permaneça na imensa plenitude do que se faz Nada. O Nada... o vazio, o obscuro, serei eternamente ser, indo.... grande questão!



A hora de viver é tão infernalmente inexpressiva que é o nada. Aquilo que eu chamava de ""nada" era no entanto tão colocado a mim que me era... eu? e portanto se tornava invisível, e tornava-se o nada. As porta como sempre continuavam a se abrir." 
Clarice Lispector - A Paixão segundo G.H.

sábado, 6 de outubro de 2012

O suicídio dos peixes.


Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes... tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurra de um penhasco que eu vu dizer:- E daí? Eu  adoro voar! Não me deem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre.” Clarice Lispector

Eu não tenho um nome. Meu desafio sempre se consistiu em buscar a mim, mas não partir de mim mesma, mas a partir de você!
Quando te olhei nos olhos a primeira vez senti um vento acolhedor que me envolvia tão depressa que me fez sentir medo! Não aquele medo, que todos nos conhecemos, em que a gente olha e sente um frio, as mãos suadas, uns calafrios... era algo bem mais subjetivo, bem mais diferente do medo habitual. Era um frio da alma, não do corpo.
E nessa tentativa de me descobrir, eu te encontrei enquanto você tentava esquecer um outro alguém e de repente o amor nos inundou como num navio muito pesado naufragando, mas nosso naufrágio era ao contrário, não era para o fundo, era para o ar.... O suicídio do homem sempre é para as profundezas... dos peixes são para o céu. Queria ser como um peixe, e poder morrer subindo, flutuando no céu.... e não caindo nas profundezas...
Não quero dizer que nosso amor foi como morte, ao contrário, ele nos trouxe uma vida que os outros não estão acostumados a ver! E quando, vira e mexe olho pra você, tentando não sentir essa paixão que tenho agora, igual quando te vi a primeira vez, sinto que de fato quero esquecer esse amor, que me fez bem. Eu não nasci pra me sentir bem, eu não nasci pra ser feliz, nem pra me encontrar! Você fez me ver, e eu... sumi, me escondi na concha que outrora era o melhor caminho... mas insistente, você foi lá, cutucou e cutucou e eu tive de sair e me mostrar! Não pense que foi uma saída fácil, ao contrário, encontrei monstros e fantasmas horríveis... SOBREVIVI!
Quero apenas que saibas, meu bem, que esse suicídio ao contrário, tal qual como os peixes fazem, me fez ressuscitar da forma reversa... pois eu sou uma viva – morta!!!