Tive o
privilégio de assistir um dos melhores filmes da atualidade. Uma obra prima do
diretor Michel Hazanavicius, com a atuação primorosa de Jean Dujardin, esse
filme me encantou em tudo! Estava em cartas no Cine Olympia semana passada! Quem
assitiu pode confirmar meu entusiasmo e aprovação... Este filme era tudo que o
cinema atual estava precisando. Leia a seguir a crítica de Luiz Zanin,
publicada no jornal O Estadão de 07 de fevereiro de 2012.
O Artista,
ou quando o silêncio brigou com o som.
Claro que O
Artista é um objeto estranho no mundo do cinema, Francês, celebra a época de
ouro de Hollywood e, com seu subtexto e desfecho esperançosos, chega envolto
numa aura inegável de nostalgia.
Por que o
sentimento nostálgico às vezes triunfa, nas vidas individuais e também na
esfera coletiva? Porque alguma coisa (ou muitas coisas) no presente não nos
agradam e então preferimos nos refugiar no passado eleito em nossa fantasia
como uma época de ouro perdida.
O Artista tem
disso. Tem também algo mais, é verdade: instala-se naquela dobra da evolução do
cinema que foi a difícil passagem do mudo para o sonoro. Etapa que destruiu
muitas carreiras e enfrentou resistência em toda a parte – menos entre o
público, que prontamente adotou o ‘cinema falado” (de que fala Noel Rosa no
samba que leva esse nome). Um gênio como Chaplin postergou o que pôde o uso de
diálogos em seus filmes. E incontáveis atores e diretores não se adaptaram e
tiveram suas carreiras destruídas. Billy Wilder, outro estrangeiro, fez o
melhor filme (sonoro) sobre a destruição de pessoas causada pelo cinema falado –
crepúsculo dos Deuses, de 1950, com Gloria Swanson como protagonista e Buster
Keaton fazendo uma ponta.
Michel
Hazanavicius deve ter intuído que vivemos em uma época semelhante, embora
aparentemente menos dramática. Tudo passa para o lado do digital, e o
compartilhamento de arquivos, vulgo pirataria, ameaça o modelo de negócio com o
qual os grandes estúdios se acostumaram. Astros de carne e osso temem ser substituídos
por contrafações digitais, como o Gollun de O Senhor dos Anéis. A técnica de motion capture digitaliza os movimentos
dos atores reais e os reprocessa em computador dando vida a protagonistas
digitais, como em Tintim. Estamos na iminência de um mundo novo, que desagrada
aos donos do mundo antigo e causa insegurança em muita gente. Quando o presente
nos provoca calafrios regressamos ao passado, como a um simbólico útero
materno.
Por isso, o
protagonista de O Artista é um certo George Valentin (Jean Dujardin, extraordinário),
grande astro do cinema mudo, que arranca suspiros das fãs. Uma dela é Peppy
Miller (Bérénice Bejo, mulher de Hazanavicius0 que de fã se torna estrela e
continua apaixonada pelo astro, logo em processo de decadência. Conhecem-se num
momento divergente da vida dos dois – um está no topo e vai cair enquanto que a
a outra sai do anonimato para a glória. No quadro de fundo, a passagem do
sonoro para o falado, que se deu entre 1928 e o começo de 1930.
O charme do
protagonista (mesmo caído em desgraça), o frescor da estrela, magnificado por
uma brejeira pintinha artificial, ideia de seu infeliz pigmalião, o pragmatismo
dos produtores, simbolizado por um John Goodman brilhante – tudo isso e mais um
cãozinho elétrico e fiel são ingredientes que, bem trabalhados e mesclados
fazem de O Artista um filme muito prazeroso. E que, claro, tem encantado plateias
por onde passa e tornou-se o favorito ao Oscar com suas dez indicações.
Terminamos de assisti-lo com inegável gosto e com uma também inevitável
pergunta a martelar o cérebro: sim, mas e daí?
Tive o
privilégio de assistir um dos melhores filmes da atualidade. Uma obra prima do
diretor Michel Hazanavicius, com a atuação primorosa de Jean Dujardin, esse
filme me encantou em tudo! Estava em cartas no Cine Olympia semana passada! Quem
assitiu pode confirmar meu entusiasmo e aprovação... Este filme era tudo que o
cinema atual estava precisando. Leia a seguir a crítica de Luiz Zanin,
publicada no jornal O Estadão de 07 de fevereiro de 2012.
O Artista,
ou quando o silêncio brigou com o som.
Claro que O
Artista é um objeto estranho no mundo do cinema, Francês, celebra a época de
ouro de Hollywood e, com seu subtexto e desfecho esperançosos, chega envolto
numa aura inegável de nostalgia.
Por que o
sentimento nostálgico às vezes triunfa, nas vidas individuais e também na
esfera coletiva? Porque alguma coisa (ou muitas coisas) no presente não nos
agradam e então preferimos nos refugiar no passado eleito em nossa fantasia
como uma época de ouro perdida.
O Artista tem
disso. Tem também algo mais, é verdade: instala-se naquela dobra da evolução do
cinema que foi a difícil passagem do mudo para o sonoro. Etapa que destruiu
muitas carreiras e enfrentou resistência em toda a parte – menos entre o
público, que prontamente adotou o ‘cinema falado” (de que fala Noel Rosa no
samba que leva esse nome). Um gênio como Chaplin postergou o que pôde o uso de
diálogos em seus filmes. E incontáveis atores e diretores não se adaptaram e
tiveram suas carreiras destruídas. Billy Wilder, outro estrangeiro, fez o
melhor filme (sonoro) sobre a destruição de pessoas causada pelo cinema falado –
crepúsculo dos Deuses, de 1950, com Gloria Swanson como protagonista e Buster
Keaton fazendo uma ponta.
Michel
Hazanavicius deve ter intuído que vivemos em uma época semelhante, embora
aparentemente menos dramática. Tudo passa para o lado do digital, e o
compartilhamento de arquivos, vulgo pirataria, ameaça o modelo de negócio com o
qual os grandes estúdios se acostumaram. Astros de carne e osso temem ser substituídos
por contrafações digitais, como o Gollun de O Senhor dos Anéis. A técnica de motion capture digitaliza os movimentos
dos atores reais e os reprocessa em computador dando vida a protagonistas
digitais, como em Tintim. Estamos na iminência de um mundo novo, que desagrada
aos donos do mundo antigo e causa insegurança em muita gente. Quando o presente
nos provoca calafrios regressamos ao passado, como a um simbólico útero
materno.
Por isso, o
protagonista de O Artista é um certo George Valentin (Jean Dujardin, extraordinário),
grande astro do cinema mudo, que arranca suspiros das fãs. Uma dela é Peppy
Miller (Bérénice Bejo, mulher de Hazanavicius0 que de fã se torna estrela e
continua apaixonada pelo astro, logo em processo de decadência. Conhecem-se num
momento divergente da vida dos dois – um está no topo e vai cair enquanto que a
a outra sai do anonimato para a glória. No quadro de fundo, a passagem do
sonoro para o falado, que se deu entre 1928 e o começo de 1930.
O charme do
protagonista (mesmo caído em desgraça), o frescor da estrela, magnificado por
uma brejeira pintinha artificial, ideia de seu infeliz pigmalião, o pragmatismo
dos produtores, simbolizado por um John Goodman brilhante – tudo isso e mais um
cãozinho elétrico e fiel são ingredientes que, bem trabalhados e mesclados
fazem de O Artista um filme muito prazeroso. E que, claro, tem encantado plateias
por onde passa e tornou-se o favorito ao Oscar com suas dez indicações.
Terminamos de assisti-lo com inegável gosto e com uma também inevitável
pergunta a martelar o cérebro: sim, mas e daí?
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