terça-feira, 1 de outubro de 2013

As palavras

Esqueça a palavra que te deixei atravessada goela, engole sapo...
Não me julgues que sem nome
Me chamo por outro modo
Um jeito meio cheio de fome
Olhos arregalados, coração pulsante...

Nesse momento quero ser outra

Me deixa e esqueça.

Aquela palavra seca dita com boca úmida
Sedenta a vingança da palavra.
Não me deixe na confusão enlouquecida da cidade
Me leve para um lugar calmo, perto de um riacho...

Quero me jogar,
com o sapo na goela, boca seca
E dizer palavras úmidas de amor.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

O cheiro que senti no corredor hoje cedo

Passando pelo corredor, hoje cedo, senti  aquele cheiro habitual do cotidiano. Dos dias que pareciam os mesmos, das horas que  passavam depressa, e do amor que demonstrávamos apesar... 
Senti com aquele odor que exalava por toda aquela extensão de corredor, as juras sinceras, os abraços apertados e aqueles que eram, as vezes, mais de leve, num compromisso de só sentirmos aquela presença de todos os dias... 
Ao sentir aquela essência de ser, vi tua presença e me abracei nas lembranças, e fiquei a vagar pelo corredor de um lado a outro...
Vivenciei as nossas conversas nos fins de tarde, e senti aquela brisa gostosa que só sentia ao teu lado. Pressenti teus braços me envolvendo, com a precisão de uma proteção - quase fraternal - e me envolvi pelo arrepio da tua ausência.
Passando pelo corredor, de lado a outro, tentei te perceber de volta, juntamente com aquele cheiro habitual de todas as manhãs, com a brisa quente do café de logo cedo, da luz batendo no teu rosto, e aquele modo lindo de me olhar de relance e sorrir com os olhos, de me beijar com palavras de afeto, e me tocar de uma maneira tão sublime e magnífica...
Passando pelo corredor, hoje cedo, senti  a tua essência de felicidade ainda entranhada nas coisas, naquilo tudo que deixaste pra mim, sem me dar a oportunidade de esquecer, nem que fosse por um minuto sequer...

Pra guardar esse momento, mais que um bocadinho, imersa nas minhas lembranças, sentei no corredor e fiquei a chorar baixinho, sentindo suas mãos enxugarem as minhas lágrimas.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

A Presença do Verde

Tudo verde. Um verde escuro... musgo. Onde estou? Está tudo tão escuro... verde escuro musgo. Paredes pintadas. Uma família pintada na parede, dadas as mãos. O pai com uma camisa e o símbolo da paz. Onde está a paz, se tudo que vejo é verde, verde escuro musgo.
Gritos, esses gritos que habitualmente chamam silêncio, choram pela madrugada. E ela ali, sem sonhos deitada numa cama... que incrivelmente é verde, verde escuro musgo. Não sabe por que esta presa num lugar verde como esse... e essas pessoas de verde?
- Você tem medo das pessoas de verde? Pergunta alguém diante de uma pergunta fugaz e insistente.
- Vocês não vão tirar a minha família de mim, né? Sem eles eu morreria... sem eles eu morro!!!
Há tristeza nas manhãs que geralmente são verdes... porém o céu lá fora é magnifico e lindo, de um incrível azul que contrasta com o imenso verde... verde escuro musgo. Dias de agonia. Como ela foi parar ali? Sem entender, sem se ver e ser vista!
- Meus amigos... onde estão e por que essas paredes são tão verdes???
Na verdura da imensidão do quarto, sozinha num ponto verde mais claro, mais calmo ouve-se os gritos que tem as ondas verdes, habituais e incessantes como o medo, que na imensa verdição é verde, verde escuro musgo... Nem em momentos tão intensamente verdes, ela lembrava-se de tanto verdor assim... Essa cor que lhe acompanha e lhe enlouquece.... Esse verde que não lhe larga e quase lhe entristece...

Longe de tudo, longe das cores que só na rua se encontram.... Essa cadeia verde, com pessoas que se vestem de verde... Um lugar verde... Medo verde! Sem esperança, que por sinal é verde!

terça-feira, 30 de julho de 2013

Um escrito atrás do livro de poesias de Álvaro de Campos

Foi folheando o livro de Álvaro de Campos – costume bobo de querer ler tudo olhando só de relance – que vi o que, até então, não pensava.
Gosto de ler o que as pessoas escrevem em livros, acho interessante.  A graça de se comprar livros usados vai além da economia. As vezes tenho o costume de comprar livros velhos pra sentir a poeira de outra casa, de outra vida, imaginar as mãos que os tocaram, quantos gostaram e quantos os desprezaram... o certo, e por isso mesmo prazeroso de se ter livros usados, é nunca poder descobrir isso...
Certa vez, parei em frente a um Sebo, esses lugares que vendem livros usados, e como perto de lá havia uma árvore linda, com uma copa sombreada, resolvi sentar-me  em baixo dela  e observar as pessoas com os livros. Tinha o olhar quase como de um cientista, mas profundo como de um poeta. O interessante do Sebo é que este era todo vidraçado, e por conta disto, podia ver todos as pessoas juntas, num lugar pequeníssimo e cheio de livros. E mais curioso ainda, por conta do reflexo nos vidros, podia ver rostos em cima de rostos, expressões faciais em cima das outras, cores difusas aparecendo e desaparecendo pelo sol que ora aparecia e percebi....
Não percebi!
Fiquei a olhar, e querendo ver tudo, não vi nada...
Não percebi....
Então entrei na lojinha envidraçada e comprei um livro... e pela primeira vez não o folheei como de costume e nem fiquei na duvida... Vi o livro de poesias de Álvaro de Campos e levei pra casa.
Quando chego em casa com livros que nunca li ocorre quase um ritual. Pego as chaves de casa, cuidadosamente, abro a porta discretamente. Passo pela sala, pela cozinha, olho o banheiro, o quarto, abro todas as janelas e contemplo a cidade – as vezes tenho a impressão de ver toda ela de cima da minha casa, e me encanto mais e mais de ver e ouvir todos os sons que a cidade no seu vigor tem . Entro no quarto, retiro o livro da sacola e o contemplo por alguns segundos deixando-o na cabeceira... Tomo um banho, daqueles que tiram todo o cansaço e o peso de todos os olhares, e esquece-se todas as amarguras, e abandona-se todos os achismo... molho os cabelos com toda a liberdade que a água ao cair no rosto proporciona... banho-me como que caísse em um rio límpido e belo. Enxugo-me devagar, e busco a roupa mais leve e macia para usar. A sensação de retirar todas as impurezas nos dá alivio e sensações indescritíveis.
Sento-me a cama e  pego o livro e.... o folheio...
Folhear o livro de Álvaro de Campos foi diferente, não houve pensamentos que me aturdissem, não houve tentativas de descobertas... Não tentei imaginar seu antigo dono, nem como este o lia, nem como ele o pegava, se ele o inspirava, se era para estudos.... Vi escritos apenas em cima e aos lados dos poemas, dos versos, das palavras como se fosse uma cópia de tudo ali escrito... E me aturdi com o mais improvável... um escrito atrás do livro de Álvaro de Campos... Quase que o inicio de um poema...  Não pensei, e vi

De repente tudo se és... vai
E tudo perde sem.... tido
Como se nunca houvesse existido
Mas recordo o gosto de algo
De um não sei o quê
Apenas vivi intensamente
Nunca deixará de ser Real.


- Fechei o livro e nunca mais dormi!

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Votre image

Agora dei de me achar fotógrafa....
                     e te congelar de formas cuidadosamente fotometradas 
com filmes a rolarem, na minha câmera analógica.
Agora que me acho meio artista, 
meio poeta, 
meio tida as maravilhas das artes, 
tenho medo
de funcionalizar a tua imagem, 
e esquecer tua figura...
Tenho medo de esquecer a fotografia 
                                                                                 ...e deixar de congelar a nossa lembrança de vida!
                                                                                                  Agora que dei de me lembrar de ti, 
                                                                                todas as noites antes de acordar (dormir), 
.....
te fotografo nas minhas lembranças 
meio 
sonhos e desejos e revelo a...
saudade 
que sinto de ti!

sábado, 27 de abril de 2013

É o que temos: Bárbara Eugênia

A melhor cantora da atualidade com musicas que valorizam sua voz autentica e sublime... é o que  temos pra falar do novo álbum de Barbara Eugênia, que traz um título irônico, que mistura um quê de  "se gostar ótimo, senão paciência". Mostra, e consegue, um tom despojado e leve misturados com a voz rouca e suave de Barbara que dão a liga para o que temos de melhor: Boa música!!! (Mundo de coisas confusas a respeito do mundo musicado de Barbara)

A seguir, uma resenha do disco retirada do site Monkey Buzz.
Link: Monkey Buzz



Três anos depois do pontapé melancólico iniciado com o disco Journal de BAD, lançado oficialmente em 2010 e envolto numa carga sentimental enraizada em reflexões dolorosas, o retorno de Bárbara Eugênia com É O Que Temos opta por um viés positivo, ainda que agregado a um título de interpretação dúbia. No entanto, a cantora original de Niterói e de histórico nômade vem munida de um belo sorriso de canto gratuito, e agora mostra saber porque nem todos os dias são de sol. E tudo bem se tudo seguir assim.
Trazendo produção de Edgard Scandurra e Clayton Martins (da Cidadão Instigado), Bárbara promove suas baladas românticas através de letras que variam entre a paixão plena, a falta da mesma e até o meio termo entre os extremos. A cantora vem flexível e traduz como os cotidianos amorosos funcionam também longe das escritas poéticas de uma composição, uma rotina musicada que não pede licença pra ser como é: Cambaleando de forma frequente entre o drama existencial e o realismo intríseco.
Eugênia traz em sua nova fase, referências locais que são facilmente assimiláveis, como o último lançamento de Céu, Caravana Sereia Bloom, e também transpõe-se a vertentes setentistas, que facilmente são notadas em diferentes momentos de seu segundo registro. A própria estica-se até a sensualidade velada que ressoa do projeto paralelo Les Provocateurs junto a Scandurra, entoando traços da sedução lírica de Serge Gainsborug em sua própria interpretação abrasileirada mesmo que trazida em versos franceses.
Se em Coração não há mais solidão, na versão adaptada de Porque brigamos (I Am...I Said) meio Jovem Guarda de Rossini Pinto e Diana, meio Neil Diamond de 72, os teclados e o arranjo plenamente embebido da música brega ressoam a carência em um hino bailado e simples dançado a dois. As confissões expostas de Roupa Suja com a participação de Pélico trazem saudades do disco Que Isso Fique Entre Nós, um material que transita na mesma rodovia da carioca. Mesmo poliglota entre o Folk semi-acústico inglês (I Wonder) e a psicodelia sofrida em francês (Jusqu´à la mort), a cantora mostra instinto safo e segue coesa ao seu ideal de que no final tudo acaba bem. Ou pelo menos deveria.
Já aquietada em São Paulo, a musicista resume em suas onze composições pinceladas de pontos altos e baixos da vida de uma incorrigível romântica, que divide seus ávidos pensamentos irracionais com o bate-ponto e cumpre-aviso da vida adulta de uma maneira sublime e nada caricata. Tais medidas dão a devida vazão buscada, provando que agora é o momento exato para a ascenção da cantora em sua carreira.



Agora, pra você que quer ouvir o álbum, eis o link para download grátis: 

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Nesse dia


Nesse dia... em que a poesia não faz sentido nenhum, ouvi tua voz ao longe. Como se eu não estivesse ali. E aprendi muito com o meu silencio. Não tive angustia, nem rancor... senti náusea.
A tua presença me parecia mais interessante acompanhada de chá quente. Muito mais que agora, neste botequim cheirando a velhice, ao lado de um copo de whisky. Parei de ouvir a tua voz e passei a perceber teu jeito meio absurdo de tagarelar sem parar, enquanto me divertia com lenços de papel.
Como deixaste de ser interessante!
Sempre o mesmo jeito esbanjador e espaçoso... Aprendi te deixar falar. Agora, concordando com tudo, e discordando de absolutamente tudo no meu intimo. Se antes concordava de coração aberto e livre, hoje concordo te achando um idiota, e eu meio medíocre.
Não me senti mal depois de todos esses anos.
Finalmente tua presença parou de ser um peso na minha vida.
Cansei de todos os teus achismos sobre si mesmo... e é uma pena que não se veja, nem mesmo quando é posto bem a frente de ti um espelho! Não sinto pena, não sinto raiva. Somente essa náusea que me deixa triste por amar alguém assim de um modo tão entediante.
Nesse dia, ouvindo teu rosto e vendo meu silencio, te encontrei e te esqueci.
Abri os olhos para ver com o terceiro olho, o olho da razão, o que nem de longe me faz falta!

quinta-feira, 7 de março de 2013

O essencial é não-ser


O essencial é não-ser
Não-ser o que se é
nem ser o que se mostra

O essencial é não engolir e cuspir as entificações que foram doadas e impostas
É ser o que não é
Não dizer o que se é
Nem perguntar o 'porque sou'

Possibilitar o não-ser
O não imaginável e não-ser
Não-ser o que pode ser
Não pensar o que se é
E nem pensar o que é 'o outrem'

Eu sou o que não sou na possibilidade de ser o que posso ser
Possibilitar a impossibilidade de ser
Não-ser.